Utilizado em obras de aterros executadas em solos moles, material diminui os riscos de recalques e rupturas, além de minimizar a ocorrência de deformações
A engenharia geotécnica brasileira vem se apropriando do EPS, de forma crescente, quanto mais conhece suas propriedades técnicas. “É um elemento resistente e bastante leve — pesa entre 1 e 1,5% do solo compactado. Com isso, apresenta enorme potencial de aplicação na construção de aterros rodoviários sobre terrenos de “banhado”, por exemplo”, destaca o engenheiro Marciano Maccarini, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Segundo o docente, os terrenos de banhado são muito moles e tendem a comprimir, provocando ondulações nas rodovias. Além disso, podem não resistir ao peso dos aterros com solos compactados e romper, causando atrasos e/ou interrupções no tráfego. Apesar de o EPS ser opção para contornar esse tipo de problema, no Brasil, a prática não está completamente difundida no meio técnico.
“Em nosso país, o uso de blocos de EPS tem ocorrido no Rio de Janeiro, em algumas obras viárias e rodoviárias sobre solos moles de grande espessura, e em outros locais com essas mesmas condições”, informa o engenheiro Roberto Kochen, diretor técnico da empresa GeoCompany. Em aterros sobre solo mole, os blocos em EPS, popularmente conhecidos como geofoam, têm a função de estabilização e substituem materiais tradicionais de enchimento, como terra, areia e pedra.
“[O EPS] é um elemento resistente e bastante leve — pesa entre 1 e 1,5% do solo compactado. Com isso, apresenta enorme potencial de aplicação na construção de aterros rodoviários sobre terrenos de banhado, por exemplo”, Marciano Maccarini
QUANDO USAR
Os materiais normalmente usados em aterros têm densidade elevada, que pode chegar a 2 tf (tonelada força) por m3, peso aplicado como sobrecarga ao solo. “Em terrenos moles isso gera recalques elevados e até mesmo rupturas”, ressalta Kochen. Por outro lado, a densidade do EPS varia entre 10 e 30 kg/m3. Ou seja, é muito mais leve, resultando em sobrecargas e recalques mínimos.
Quando usados para estabilização de aterros, os blocos em EPS exigem alguns cuidados especiais durante a obra. “Devem ser protegidos contra possíveis vazamentos de gasolina, óleo, entre outras substâncias que podem atacá-los quimicamente”, adverte o professor. Também necessitam de atenção para evitar vandalismo, pois são facilmente cortados. E em caso de alagamento, os blocos em EPS expostos podem flutuar, desfazendo o trabalho já executado.
“Em nosso país, o uso de blocos em EPS tem ocorrido no Rio de Janeiro, em algumas obras viárias e rodoviárias sobre solos moles de grande espessura, e tem outros locais com essas mesmas condições”, Roberto Kochen
VANTAGENS E DESVANTAGENS
Além de minimizar as deformações e irregularidades nas rodovias e impedir a ruptura de aterros, a presença do EPS também acelera o processo construtivo. “Isso porque sua instalação no campo é fácil e não requer maquinário especial”, indica Maccarini. Além disso, a leveza do material facilita a logística e a manipulação, se comparado com o trabalho necessário para lidar com as alternativas tradicionais. Outra vantagem é o fato de a execução não estar sujeita às condições climáticas, como é o caso de aterros com solos compactados, que não podem ser executados sob chuva.
“As soluções geotécnicas que levam o EPS não competem financeiramente com alternativas convencionais mais baratas, como as que empregam geodrenos, geogrelhas e bermas de equilíbrio, mas com integrantes do grupo composto de aterro sobre estacas de concreto, de brita ou brita encamisada (Ring Track), jet grouting, CPR etc.”, detalha o professor da UFSC.
EXECUÇÃO
A sequência construtiva do conjunto de blocos em EPS em aterros começa com a execução de camada nivelada de areia para assentamento das peças. Na sequência, é feita a instalação dos blocos de maneira travada, ou seja, não se deve permitir que a junta vertical de separação entre duas peças adjacentes de uma mesma camada coincida com a de blocos de outra camada imediatamente acima ou abaixo.
Para impedir o deslizamento horizontal, são instaladas pequenas chapas metálicas dentadas entre blocos de camadas adjacentes. Também é recomendada a aplicação de uma manta geossintética impermeável sobre o conjunto de blocos. “Por fim, pode ocorrer ou não a execução de uma laje de concreto para o espraiamento das tensões sobre os blocos em EPS. Depois disso, finalmente, é executada a construção do pavimento”, afirma o professor.
“Mesmo com grandes dimensões, os blocos em EPS são facilmente manipuláveis e podem ser colocados lado a lado e empilhados até a altura requerida para o enchimento. A partir disso, são utilizadas camadas usuais de terra e pavimento para executar a obra”, diz Kochen.
NA PRÁTICA
No estado de Santa Catarina, um trecho da rodovia BR-470 está em obras para duplicação da pista. Nesse projeto, os blocos em EPS foram especificados como solução para o aterro de encontro, do lado oeste da ponte sobre o rio Luiz Alves. O professor Maccarini utiliza a imagem abaixo para explicar como o procedimento foi executado.
“A substituição parcial do solo compactado por EPS diminui bastante os esforços horizontais sobre as estacas do bloco de fundação. As estacas foram cravadas antes mesmo da complementação do aterro, o que não deveria ter ocorrido. Esse fato forçou o uso do EPS. As estacas atingem até 30 m de profundidade em solos muito moles. O aterro de solo compactado, à direita do EPS, foi construído lentamente e deixado em repouso antes da cravação das estacas”, finaliza Maccarini.
COLABORAÇÃO TÉCNICA
Marciano Maccarini – Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mestrado em Geotecnia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e é Ph.D. em Geotecnia pelo Imperial College of Science and Technology da London University. É professor titular no Departamento de Engenharia Civil da UFSC e atua como consultor em geotecnia.
Roberto Kochen – É engenheiro civil, Mestre e Doutor em Engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Fez pós-doutorado na Universidade de Toronto (Canadá) entre 1991 e 1992. É professor do departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações da Poli-USP. Atua como consultor em geotecnia, túneis, fundações e meio ambiente. É membro da diretoria Nacional do Sindicato Nacional de Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco) e diretor técnico da empresa GeoCompany.