Material é aplicado como elemento espaçador em fôrmas e no preenchimento das folgas. Para evitar problemas, seu uso deve ser previsto e especificado ainda na etapa de projeto
Motivadas por diferenças térmicas ou arranjo dos carregamentos, as movimentações das peças estruturais devem ser consideradas no projeto de uma edificação. Saber como lidar com a situação é fundamental para evitar o surgimento de patologias. Nesse contexto, as juntas de dilatação e construção são de suma importância. As folgas permitem que os materiais trabalhem (dilatando-se ou retraindo-se) sem causar problemas para a construção. “Em pisos de concreto convencional, se as juntas de dilatação não forem usadas, surgirão suas próprias juntas em regiões que apresentem alguma vulnerabilidade natural do sistema construtivo. Ou seja, acaba trincando”, explica o engenheiro Guilherme Custódio Garcia Júnior, titular da Garc Engineer. Ele salienta que, quando a estrutura não pode ser monolítica em soluções específicas, são moldadas peças separadas, quase encostadas uma na outra. “O ponto de encontro é onde estão as juntas de dilatação”, complementa.
“Em edifícios, não devemos trabalhar com elementos estruturais que tenham medida superior a 20 ou 30 m, dependendo da geometria do projeto. Para vencer dimensões maiores do que essas são usadas juntas de dilatação, que ‘separam’ a construção em duas partes”, comenta o engenheiro Denilson Rodrigues, consultor técnico do Grupo Isorecort. Quanto maiores são as dimensões que precisam ser superadas, maiores as juntas. Em grandes lajes, a folga deve ter cerca de 20 mm — medida que pode chegar a 30 mm dependendo das condições da obra. “[Essa medida] permite que os elementos se retraiam ou se dilatem sem que uma peça interfira nas demais. Caso contrário, uma parte do edifício acaba ‘empurrando’ a outra”, informa Rodrigues.
As juntas de dilatação também são usadas em paredes e muros construídos para separar longos terrenos ou fachadas de edifícios. Nesses casos, a estrutura é dividida em elementos menores, unidos através das juntas. “Já em alvenarias, dependendo da geometria do projeto, as folgas devem ser especificadas junto às colunas”, afirma Rodrigues, indicando que o dimensionamento das folgas acontece na fase de projeto. “Não é algo improvisado ou definido durante a obra”, diz.
“Em pisos de concreto convencional, se as juntas de dilatação não forem usadas, surgirão suas próprias juntas em regiões que apresentem alguma vulnerabilidade natural do sistema construtivo. Ou seja, acaba trincando”, Guilherme Custódio Garcia Júnior
FÔRMAS EM EPS
O poliestireno expandido (EPS) pode ser usado na confecção das juntas de dilatação. “O material é útil durante a montagem das fôrmas, sendo utilizado como molde ou espaçador. Depois, sua remoção depende das condições de trabalho”, informa Garcia. Segundo ele, o EPS funciona como elemento de isolamento naquele ponto em que se faz necessário deixar um espaço que, posteriormente, será ocupado por algum material elastômero termofixo ou termoplástico, fazendo da junta um ponto devidamente tratado.
“O EPS é bastante versátil quando usado como fôrma, pois permite modelar e criar diferentes configurações. Por exemplo, para conceber nichos, aberturas e passagens na estrutura durante a concretagem. O material tem sido usado como um facilitador. Às vezes, produzir uma fôrma de madeira e removê-la após a cura do concreto pode se tornar uma tarefa um pouco difícil. Já com o EPS, esse mesmo procedimento acaba sendo bem mais simplificado”, detalha Garcia.
PREENCHIMENTO DAS JUNTAS
O preenchimento do núcleo das juntas de dilatação deve ser feito com material elástico e que acompanhe as movimentações. “O EPS é indicado para essa função por apresentar baixos coeficientes de dilatação e retração e por ser muito flexível. Com isso, ele aceita muito bem a movimentação das estruturas, prevenindo o aparecimento de patologias”, observa Rodrigues. Nesse caso, o EPS deve ter densidade entre 1 e 3, com espessura de cerca de 20 mm.
“Em edifícios, não devemos trabalhar com elementos estruturais que tenham medida superior a 20 ou 30 m, dependendo da geometria do projeto. Para vencer dimensões maiores do que essas são usadas juntas de dilatação, que ‘separam’ a construção em duas partes”, Denilson Rodrigues
Além do poliestireno expandido, outra opção para o preenchimento é a espuma rígida de poliuretano (PU) ou poliisocianurato (PIR). “São materiais um pouco mais nobres e com valor agregado maior. O EPS é mais acessível”, compara o engenheiro da Isorecort, destacando que uma das primeiras utilizações do EPS na construção civil nacional foi justamente nas juntas de dilatação.
Garcia ressalta que quando o EPS é usado no preenchimento das juntas deve sempre haver vedação. “O material não funciona como elemento de tratamento das juntas, mas como limitador de profundidade para uma posterior vedação”, informa. Rodrigues concorda, indicando que para o selamento podem ser usados elastômeros como o silicone, que evitará a entrada de água, resíduos e crescimento de vegetação nas juntas de dilatação. “Como o poliestireno expandido deve ser de baixa densidade, não haverá vedação completa da junta”, avalia Rodrigues. A água não interfere nas propriedades do EPS, que tem coeficiente de absorção bastante baixo (entre 4 e 5%). No entanto, a presença de líquidos no interior das juntas pode fazer com que os elementos estruturais sofram com patologias relacionadas a infiltrações.
A facilidade de manuseio e recorte torna mais simples o preenchimento das juntas com poliestireno expandido (EPS). As peças podem ser moldadas em diferentes formatos, inclusive cilíndricos. “É fácil trabalhar com o material. Para uma estrutura com geometria mais complexa, o recorte pode ser feito com um simples estilete. Importante lembrar que o uso do EPS nas juntas de dilatação deve ser indicado pelo calculista responsável”, finaliza Rodrigues.
COLABORAÇÃO TÉCNICA
Guilherme Custódio Garcia Júnior – Engenheiro civil formado pela Universidade São Judas Tadeu (USJT), tem mestrado em Construção Civil com ênfase em Ciência dos Materiais pelas Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e pela USJT. É pós-graduando em Engenharia de Segurança pela Universidade Cruzeiro do Sul. Palestrante, pesquisador e autor de artigos, atua com projetos e execução de estruturas metálicas, recuperação e reforço estruturais, desenvolvimento de concretos e argamassas e incremento de novos materiais. Possui experiência no diagnóstico de patologias e prescrição de tratamentos para edificações. Fundador e CEO da empresa Garc Engineer e do Grupo EccO Servizi.
Denilson Rodrigues – Engenheiro civil formado pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Atua com projetos estruturais e possui ampla experiência com obras de concreto armado, elementos pré-fabricados, painéis e cortinas de contenção.