Os afundamentos em rodovias acontecem quando há ausência de suporte da camada de solo subjacente à pista. São várias as causas, que vão desde as características do terreno até projetos elaborados ou executados de maneira inadequada. “A engenharia nacional tem soluções para evitar a anomalia, basta seguir a correta teoria e as boas práticas construtivas”, destaca o engenheiro Milton Golombek, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Projetos e Consultoria em Engenharia Geotécnica (ABEG).
A existência de camadas de solos moles pode contribuir para a ocorrência de afundamentos, no entanto não deve ser considerada sempre como a principal causa. “Não é razoável atribuir o afundamento que se verifica muito frequentemente nas rodovias brasileiras apenas à presença dos solos moles, que são característicos de boa parte do país. Muitas vezes, isso ocorre por conta de aterros mal compactados”, informa o especialista, indicando que é possível projetar e construir estradas seguras e duráveis mesmo sobre solos moles.
“É o caso das rodovias paulistas dos Imigrantes, dos Bandeirantes, dos Trabalhadores e outras. Acontece, no entanto, que as decisões técnicas embasadas nos estudos da melhor engenharia praticada no Brasil são muitas vezes deixadas de lado – substituídas por escolhas políticas”, comenta Golombek. Segundo ele, é comum se optar por investir o mínimo possível nos projetos e obras. “Isso resulta em rodovias mal planejadas e executadas, que duram alguns poucos anos, e logo aparecem os buracos e os afundamentos”, completa.
COMO O AFUNDAMENTO ACONTECE
O afundamento pode ocorrer de maneira repentina diante de situações excepcionais, como chuvas fora dos padrões, que não foram consideradas na fase de elaboração do projeto. “Nenhuma obra de engenharia é planejada considerando todos os fatores extraordinários, já que isso as tornaria inviáveis do ponto de vista financeiro”, diz Golombek. No caso dos volumes de precipitações, por exemplo, são utilizados os parâmetros históricos médios — com dados referentes a uma ou duas décadas passadas.
Apesar dessa possibilidade mais súbita, o comum no Brasil são os afundamentos que vão evoluindo durante um período longo de tempo. Caso o problema não seja tratado com a devida atenção, a situação continuará se agravando. “É normal vermos obras mal planejadas ou executadas que viram esqueletos em poucos anos. A rodovia passa a existir só no mapa. Na prática, ela não passa de um amontoado de buracos, que a tornam quase intransitável. E o que é pior – a reforma ou reconstrução leva anos ou décadas”, avalia o engenheiro.
USO DO EPS NA SUBSTITUIÇÃO DOS SOLOS MOLES
Quando a pista sofre afundamento, é possível reverter o problema por meio da sua reconstrução. No caso dos solos moles, o mais comum é a retirada dessa camada e sua substituição por outros materiais. Uma das opções empregadas é o bloco de poliestireno expandido (EPS) ou GeoSolution, também conhecido como geofoam. A solução agrega alta resistência mecânica com baixo peso, particularidades que a tornam interessante para obras viárias.
“Em casos em que há uma faixa de solo muito espessa, boa parte dele pode ser removida e trocada pelos blocos de EPS. Por ser extremamente leve, o geofoam não sobrecarrega o solo mole abaixo dele. Além disso, o material tem boa capacidade de suportar o peso e não se deforma com facilidade. Porém, isso não significa que o geofoam elimina totalmente a possibilidade de deformação na pista”, detalha Golombek.
O aproveitamento dos blocos de poliestireno expandido deve ser acompanhado de um bom projeto e correta execução. O material deve, por exemplo, ser protegido contra substâncias agressivas, como os hidrocarbonetos, com a instalação de manta na última camada de blocos, próximos ao pavimento. E, ainda, receber adequada fixação para que não flutuem e sejam carregados pela água das chuvas ou devido à elevação do lençol freático. Além de ser usado na recuperação de rodovias que sofreram com o afundamento, o GeoSolution também tem espaço em obras de pistas novas.
AFUNDAMENTOS X ONDULAÇÕES
Os afundamentos e as ondulações são fenômenos semelhantes, mas com certas diferenças. “Geralmente, as ondulações acontecem devido à compactação mal executada, criando pontos de diferentes capacidades de suporte”, explica o engenheiro. Já o afundamento ocorre quando há uma grande área com falta de capacidade de suporte da estrada. “Um trecho longo construído sobre solo mole pode apresentar afundamento homogêneo ao longo de sua extensão”, complementa o especialista.
ESTRADAS QUE “VIAJAM”
No Brasil, mediante chuvas intensas, são vistas com certa frequência cenas de trechos inteiros de pistas sendo levados pelos temporais. Esses são casos excepcionais e ocorrem devido às precipitações fora dos padrões, tendo como causa principal erros de projeto ou execução. “Esse tipo de obra não é feito para durar. Ele apenas serve para que os gestores apareçam na fotografia como responsáveis pela construção e normalmente não contam com serviços de contenção e drenagem”, comenta Golombek.
Com isso, na primeira chuva mais forte, rolam os taludes que ficaram sem tratamento adequado e é assim que as estradas são carregadas para longe. “Drenagem e contenção de taludes são técnicas amplamente dominadas pela engenharia nacional. Não há por que não executar tais serviços. Se bem realizados, evitariam grande parte dos problemas que hoje assistimos nas rodovias brasileiras”, ressalta o especialista.
O case Piaçaguera-Guarujá
Projetos mal planejados custam muito dinheiro para a sociedade, e a solução mais barata, no curto prazo, nem sempre é a mais vantajosa quando se considera a longa vida útil da obra. Foi o caso, por exemplo, da rodovia Piaçaguera-Guarujá, que liga os municípios de Santos e Cubatão, em São Paulo. “Diante das condições na região, seria melhor optar por uma longa ponte assentada sobre a camada de solo firme, abaixo do trecho mole”, avalia o engenheiro.
No entanto, optou-se na época pela solução financeiramente mais interessante no curto prazo. “A consequência é que os afundamentos acontecem sempre, de tempos em tempos. Depois de cada afundamento, mais asfalto é colocado e mais espessa fica essa camada. Há trechos em que a faixa de asfalto chega a 3 m de espessura – o que agrega ainda mais carga sobre o solo”, destaca Golombek.
“Solução muito mais eficiente para esse trecho teria sido elevar a travessia por meio de uma ponte, com fundação adequada para o tipo de solo. Isso foi bastante discutido por especialistas na época, há mais de 30 anos. Mas, venceu a alternativa mais barata. Desde então, são constantes as reformas feitas nessa rodovia e cada intervenção custa um valor razoável. Isso acontece há anos e vai continuar acontecendo porque houve a decisão de economizar no projeto e na execução”, conclui Golombek.