Embora pouco conhecido pelos profissionais da área, material alia resistência e leveza, sendo indicado para diferentes tipos de obra, inclusive em substituição às paredes de drywall
Resistentes, versáteis e sustentáveis, os blocos de concreto leve com adição de pérolas em EPS começam a conquistar espaço no mercado da construção civil nacional. “Embora ofereçam inúmeras possibilidades, eles ainda são pouco conhecidos pelos profissionais da área, principalmente, projetistas responsáveis pela especificação de produtos e soluções”, comenta o engenheiro Denilson Rodrigues.
“A solução não é comum no Brasil, mas tem potencial para crescer”, ressalta o empreiteiro Junior Israel de Azevedo, diretor da Juno Artefatos em Concreto Leve. Entre as principais vantagens desse tipo de bloco, estão os isolamentos térmico e acústico, proporcionados pela presença do EPS em sua composição. “A alvenaria trabalha como uma barreira termoacústica, que faz com que a temperatura do ambiente seja amena e agradável, com sensível redução dos níveis de ruído”, diz Rodrigues.
Segundo Azevedo, é importante que sejam realizados testes para indicar o nível de atenuação sonora que o material apresentará em função da utilização, podendo ser personalizado a critério do usuário ou do projeto. “Já no quesito térmico, se alguém apontar a chama do maçarico para um lado da parede, é possível encostar a mão na superfície oposta sem se queimar, pois a temperatura permanecerá fria ou tolerável”, garante.
“Embora ofereçam inúmeras possibilidades, eles [blocos de concreto leve com adição de pérolas em EPS] ainda são pouco conhecidos pelos profissionais da área, principalmente, projetistas responsáveis pela especificação de produtos e soluções”, Denilson Rodrigues
PREPARAÇÃO DO CONCRETO LEVE COM EPS
Na preparação do concreto leve, o agregado graúdo ou a brita são substituídos por pérolas em EPS. “A intenção é torná-lo mais leve e fácil de ser manipulado em comparação às soluções convencionais”, compara Rodrigues. Usada na confecção dos blocos, as pérolas em EPS também podem ser aproveitadas em praticamente todos os casos em que o concreto tradicional é empregado, exceto em situações estruturais. “Apesar de o uso estrutural estar em estudo, costumamos limitar a indicação”, declara Rodrigues. Assim, o concreto leve com EPS é recomendado para enchimentos e nivelamento de contrapisos (principalmente sobre lajes), enquanto os blocos são aproveitados em alvenaria.
A preparação desse tipo de concreto pede atenção especial com alguns detalhes, especialmente com relação à sequência e à quantidade das matérias-primas. Por ser muito leve, o EPS tende a flutuar quando há excesso de água, sendo indicado o uso de aditivos que possibilitam a formação de uma ‘crosta’ de cimento em torno das pérolas, de modo a se obter uma mistura mais homogênea.
“A solução chega a ser 70% mais leve do que o bloco de concreto comum, sendo indicada para execução de paredes rápidas e uma alternativa para o drywall”, Junio Israel de Azevedo
“Se a mistura for realizada da maneira tradicional, em uma betoneira comum, a massa gruda nas paredes internas do equipamento”, adverte Azevedo. Uma das alternativas é fabricar o concreto leve em um misturador que trabalhe na posição horizontal. “Nos misturadores de argamassa tradicionais, as pás ficam distantes da parede interna. A solução encontrada foi a colocação, na parte interna da máquina, de uma espécie de lâmina em formato de hélice, que passa pelas paredes retirando toda a massa”, detalha Azevedo, lembrando que na confecção dos blocos é utilizada uma mesa com alta intensidade de vibração. Caso contrário, as peças podem se quebrar durante o procedimento.
AS PÉROLAS EM EPS
Além de estarem presentes na composição dos blocos, as pérolas em EPS têm várias outras utilidades para a engenharia. “Podem ser empregadas na elaboração de argamassa não estrutural de enchimento, que tem densidade entre 700 e 1600 kg/m2 contra 2.400 kg/m2 do concreto convencional. Dependendo do uso, é possível conquistar muitas vantagens com essa redução de carga”, avalia Denilson Rodrigues.
ONDE USAR OS BLOCOS?
Quando usados como elemento de alvenaria, os blocos de concreto leve com adição de EPS suportam carga semelhante àquelas vencidas por outros tipos de material que cumprem a mesma função. “Os blocos leves, geralmente, são maciços e não vazados. Comparando a carga de ruptura deles e dos tradicionais em relação à pressão, em algumas situações, é possível encontrar na opção com EPS uma resistência maior”, afirma Rodrigues. “A solução chega a ser 70% mais leve do que o bloco de concreto comum”, compara Azevedo, comentando que o material é indicado para execução de paredes rápidas e uma alternativa para o drywall. A substituição oferece algumas vantagens, como a eliminação da estrutura metálica auxiliar usada na fixação, além de poder ser empregado em áreas molhadas, pois absorve pouca água.
PROCESSOS DE FABRICAÇÃO
De acordo com Azevedo, o processo de fabricação visa oferecer soluções que reduzam as taxas de desperdício no canteiro de obras e a geração de entulhos. “O material pode ser cortado para se ajustar a cada situação, sendo que, o corte é fracionado para que tudo seja aproveitado. É possível reduzir o tamanho para obter medidas de 1/4, 1/2 e 3/4 da dimensão original, de forma que as paredes internas do bloco permaneçam com as mesmas características das externas”, explica o profissional, comentando que a medida padrão dos blocos é de 590 mm x 235 mm x 150 mm, com modulação em 150 mm x 150 mm na posição horizontal.
A produção da Juno Artefatos em Concreto Leve é diferente, pois oferece blocos vazados. “O produto tem um único tamanho, mas com dois modelos: o bloco tradicional para fechamentos diversos e o com uma canaleta pré-definida para utilização em cintas de amarrações. Ambos são facilmente cortados com equipamentos elétricos, como a serra mármore, ou com o auxílio de um serrote dentado (com dentes de vídea), quando há falta de eletricidade no local”, relata Azevedo.
O bloco tradicional é vazado na vertical para facilitar a passagem dos ferros usados na execução de colunas e tubulações elétricas ou hidráulicas. “Já o bloco com canaleta tem em seu corpo aberturas tanto na vertical como na horizontal, que permitem a passagem de ferragens para amarrações tipo ‘cinta’ e também para execução de tubulações diversas”, diz Azevedo.
ASSENTAMENTO E ACABAMENTO
O assentamento dos blocos de concreto leve com EPS é realizado com argamassa padrão, a mesma utilizada no procedimento com blocos tradicionais. Outra opção são as soluções do tipo ‘cola bloco’. “O material recebe variados tipos de acabamento. A parede pode ser executada com os blocos aparentes ou receber chapisco, reboco e gesso para aplicação de outros revestimentos, como argamassa polimérica ou textura projetada”, finaliza Azevedo.
COLABORAÇÃO TÉCNICA
Denilson Rodrigues – Engenheiro Civil formado pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Atua com projetos estruturais e acumula grande experiência com obras de concreto armado, elementos pré-fabricados, painéis e cortinas de contenção.
Junio Israel de Azevedo – Empreiteiro de obras civis, é diretor na empresa Juno Artefatos em Concreto Leve, sediada em Rio Claro (SP). Empreendedor, idealizou equipamentos e processos para mistura homogênea de argamassa usada na fabricação de blocos com adição de EPS.